6 de ago. de 2009

Metamofose dos Valores III

Com isso, graças ao que Marx chama de “livre competição no campo do conhecimento”, até os produtos e idéias mais subversivos — como o próprio Manifesto — devem ser autorizados a oferecer-se, na suposição de que pode haver compradores para eles.
Essa dialética oferece algumas dificuldades. A primeira diz respeito à adesão da burguesia ao princípio sem princípios da livre troca, seja em economia, em política ou em cultura. De fato, na história burguesa esse princípio tem sido mais honrado na violação do que na observância. Os membros da burguesia, sobretudo os mais poderosos, em geral se esforçam por restringir, manipular e controlar seus mercados. Realmente, muito de sua energia criativa, ao longo dos séculos, tem sido canalizada para arranjos nesse sentido — monopólios por concessão, companhias acionistas,trustes, cartéis e conglomerados, tarifas protecionistas, subsídios estatais abertos ou disfarçados — tudo isso acompanhado de hinos em louvor do livre mercado. Mais ainda, mesmo entre aqueles poucos que de fato acreditam na livre troca, uma porcentagem ínfima estende o princípio da livre competição às idéias assim como às coisas. Um padrão mais típico da burguesia é clamar por liberdade, quando na oposição, e reprimi-la,uma vez no poder. Aqui Marx pode correr o perigo — um surpreendente perigo para ele — de ser arrastado pelo que dizem os ideólogos burgueses e de perder o contato com o que os homens de dinheiro e poder realmente fazem. Isto é um problema sério,pois, uma vez que não ligam a mínima para a liberdade, os membros da burguesia trabalharão no sentido de manter fechadas a novas idéias as sociedades sob seu controle, tornando ainda mais difícil o caminho para o comunismo. Marx diria que sua necessidade de progresso e inovação os forçaria a abrir suas sociedades até mesmo a idéias que os atemorizam. No entanto, sua engenhosidade pode impedir isso, através de uma inovação verdadeiramente insidiosa: um consenso em termos de mediocridade imposta de maneira generalizada, destinada a proteger cada indivíduo burguês dos riscos da competição e à sociedade burguesa, como um todo, dos riscos de mudança.

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