8 de jul. de 2009

Mencken

Henry Louis Mencken
A história do crítico e jornalista norte-americano.
"Acredito que é melhor ser livre do que ser um escravo. Acredito que é melhor dizer o que se pensa do que mentir. E acredito que é melhor saber do que ser um ignorante."

Altas horas da noite, o crítico e jornalista norte-americano Henry Louis Mencken acendia um charuto, sentava-se em frente à máquina de escrever e dava início a seu entretenimento favorito. Golpeando as teclas num ritmo frenético, em meio a intermináveis baforadas, ele se lançava em mais uma sessão de diatribes e impropérios: o alvo de seus ataques, dependendo do dia e do estado de espírito, podia ser algum escritor de talento duvidoso, a moral da classe média americana, o New Deal política norte-americana de investimentos em obras públicas para enfrentar a recessão na década de 30 ou a humanidade como um todo. De tempos em tempos, Mencken fazia uma pequena pausa, lia o que acabara de escrever, dava um tapa na perna e soltava uma gargalhada. Depois de recuperar o fôlego, suspirava com satisfação e começava o próximo parágrafo.

A cena, descrita por um colega de trabalho, é perfeita para ilustrar a obra e a personalidade de Mencken, um dos grandes mitos do jornalismo norte-americano e um dos maiores críticos da mentalidade do seu país. Fustigou sem piedade as instituições, as crenças e os costumes de seus conterrâneos. Inimigo jurado de toda forma de puritanismo, atacava a moral burguesa, onde quer que a encontrasse. E poucas coisas lhe davam mais prazer que assistir, com um olhar lânguido e complacente, à indignação generalizada que seus textos despertavam.

Mencken nasceu em Baltimore, em 1880, e ali ficou até o fim da vida, em 1956. Suas palavras, no entanto, alcançavam os quatro cantos dos Estados Unidos, levadas por revistas como Smart Set e American Mercury. Pródigo, abundante, ele escreveu durante quatro décadas e incomodou na mesma medida em que foi lido por todos até por aqueles que o detestavam.

No auge da sua carreira, ele se tornou algo como o superego do seu país, uma espécie de má consciência nacional, pronta a denunciar toda espécie de mesquinharia e provincianismo. Sua inteligência transgressora tornou-o o ídolo de muitos; outros tantos, talvez a maioria, jamais perdoaram sua iconoclastia. Entre seus admiradores, encontrava-se o crítico Edmund Wilson, um dos maiores pensadores norte-americanos, autor de Rumo à Estação Finlândia, que cresceu lendo os textos de Mencken na revista Smart Set e para sempre o consideraria uma de suas influências decisivas. O escritor F. Scott Fitzgerald, que devia às resenhas literárias de Mencken muito da sua fama, apontava o Sábio de Baltimore como um dos maiores inspiradores da Geração Perdida, o grupo de jovens intelectuais americanos que, no período do pós-guerra, dedicou-se a retratar a morte de todos os deuses e o esgotamento dos antigos ideais.

Mencken jamais se sentiu à vontade com essa posição de guru intelectual: afinal, sempre esforçou-se em evitar o proselitismo e poucas coisas o deixavam mais desconfiado que a unanimidade, mesmo quando ela estava do seu lado.
Hoje, muitos o vêem como o exemplo do intelectual cético e belicoso, descrente de todas as convicções, avesso a certezas absolutas e a tudo o que possa servir de obstáculo para o uso da razão. Suas armas foram o cinismo e a hipérbole. Seu legado, a sugestão de que o homem é uma criatura desastrada e que só a cultura é capaz de redimi-lo. Em uma entrevista, no final da vida, disse que a humanidade sofre de uma idiotice patológica; ela jamais será feliz. No entanto, seu vigoroso ceticismo guarda espaço para uma firme, ainda que discreta, esperança: "Acredito que é melhor ser livre do que ser um escravo. Acredito que é melhor dizer o que se pensa do que mentir. E acredito que é melhor saber do que ser um ignorante."


http://super.abril.com.br/superarquivo/2003/conteudo_121155.shtml

"Pode-se dizer com bastante segurança que qualquer artista de alguma dignidade é contra seu país”. “Todo homem decente se envergonha do governo sob o qual vive”. “O principal conhecimento que se adquire lendo livros é que poucos livros merecem ser lidos”. Essas e outras frases estão impregnadas no inconsciente de quem passou os últimas décadas lendo atentamente os melhores jornalistas culturais brasileiros do século XX. Porque todos eles, direta ou indiretamente, foram influenciados por H.L. Mencken. A começar por Paulo Francis, que o tinha como um de seus heróis, junto a Bernard Shaw e Edmund Wilson. Emendando com Ruy Castro que, além de compilar essas frases em suas coletâneas de Mau Humor, organizou a mais célebre edição de Mencken em português – justamente, O Livro dos Insultos, que teve sua primeira tiragem em 1988, com tradução e posfácio de Ruy, mais orelha de... Paulo Francis.
http://www.digestivocultural.com/arquivo/nota.asp?codigo=1566

Um comentário:

debi sarmento disse...

O livro dos insultos em PDF - Faltou a orelha, mas foi bom ler de novo: http://www.4shared.com/file/59153497/d524bccf/Mencken_-_O_Livro_Dos_Insultos.html