17 de mar. de 2009

.:: O TEMPO ::.

Reportagem do jornal O Tempo, publicada em 17/03, sobre o encontro Alimentando a Alma, na casa da Alice, com Mariângela e Martha. Cheguei já na hora do almoço e só ajudei mesmo a comer.


Fotos Ana Elizabeth Diniz
Aula de sábado. As monjas Mariângela Ryosen (esq) e Martha Waryú compartilham os pratos da culinária zen budista (as mãos são minhas!)

Estilo de vida
Um jeito zen de comer

Para os praticantes budistas, cozinhar e comer são atos de consciência e um treinamento espiritual
Ana Elizabeth Diniz
Especial para O TEMPO


Por volta das 9h da manhã do último sábado, um pequeno grupo se reuniu para partilhar a sabedoria e os ensinamentos budistas sobre a arte de se alimentar e cozinhar.
Antes, uma pausa para o zazen, pequena meditação em que se senta em posição de lótus, com os olhos ligeiramente abertos, olhar dirigido para baixo e sem focalizar nada em particular.
A postura ereta e a respiração tranquila acalmam a mente. O ideal é deixar os pensamentos surgirem naturalmente, sem brigar com eles ou afugentá-los. No zazen, o essencial é despertar das distrações ou entorpecimentos.
Mente serena, a monja Mariângela Ryosen, ordenada pelo mestre Tokuda Igarashi e que durante dez anos dirigiu o Mosteiro Zen Pico de Raios, em Ouro Preto, convidou os alunos do curso Alimentando a Alma, à prática do zen na cozinha.
Foram preparados cinco pratos dentro do mais puro ritual budista que tem a intenção de "despertar a conexão íntima entre a refeição e a própria vida em sua totalidade. A refeição preparada com todo coração, espírito aberto e a mente clara, nutre algo muito além do nosso corpo e influencia no aspecto espiritual da vida", ensina a monja.
Os ensinamentos budistas evocam uma atitude pura em relação à vida e revelam, segundo Mariângela, que cozinhar pode ser uma tarefa nobre. "O cuidado no preparo dos alimentos deve ser o mesmo que uma mãe tem com seu filho. Os objetos são manuseados com delicadeza, não se ouve o barulho do bater nas panelas. O barulho agita nossa atmosfera psíquica e, ao mesmo tempo, é o resultado da dissonância que produzimos interiormente com nossos tormentos e revoltas mentais."
Na cozinha zen não há espaço para preocupações, nem aborrecimentos. "Os pensamentos dispersos e as emoções turbulentas estão fora de cogitação, pois o espírito esclarecido e tranquilo e a autenticidade do coração conduzem a um maravilhoso poder de transformação em uma nutrição abençoada", ensina Mariângela.
O trabalho do monge tenzô, o responsável pela cozinha, é considerado dos mais importantes do templo budista. Ele dedica toda a sua atenção à preparação das refeições cotidianas, cuidando tanto da qualidade como da quantidade.
Tesouro. Ele prepara as refeições todos os dias do ano, seguindo sempre o mesmo ritmo. Trata a comida como um tesouro e verifica pessoalmente a higienização e o armazenamento dos alimentos, evitando a poeira e o contato com os insetos. Evita o desperdício, não compra em excesso e nem deixa estragar os alimentos.
A monja lembra que a cozinha e a comida são manifestações do coração. "Cozinhar é o caminho para aperfeiçoar o caráter. A prática de cozinhar e comer corretamente propicia, além da nutrição do corpo, o desenvolvimento da consciência e do espírito, pois exige um jeito de olhar a vida e de viver a espiritualidade no cotidiano. Cuidando primeiro da ecologia interna, pode-se compreender e colocar em ação os movimentos do coração em benefício do equilíbrio ecológico do mundo."
Os pratos preparados foram: bifun (macarrão de arroz), acelga com castanhas, shiitake, hiyayako (tofu temperado) e uma sobremesa de mamão, figo e chantilly caseiro.
Antes do almoço, os budistas têm o costume de recitar em voz alta um sutra (oração) e agradecem pelo alimento. "Quando comemos e bebemos, rezamos junto com todos os seres e agradecemos a vida que nos dá vida", recitou a monja antes de tirar uma soneca altamente zen.

Agenda
O que: Curso de culinária zen
Quando: 18 de abril
Horário: das 9 às 14h
Local: Avenida João Pinheiro, 85, apto 1.504, Centro
Informações: 9745-4450


Curiosidade
A comida vegetariana zen budista chamada shôjin ryôri é alimento para o corpo e para o espírito. A palavra shôjin é uma tradição do sânscrito que significa esforço, energia, diligência, perseverança e dedicação.


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