13 de mar. de 2009

Indesejada das gentes

Acordei agora há pouco, são 4:01 da manhã... ouvindo mais um pouco das palestras do Tainha, divagando sobre perdas & vida & como viver - as perguntinhas básicas do significado da vida. Nostalgia. Minhas referências são não tanto o zen mas a cultura ocidental de que sou cultor: Augusto, imperador romano, nos momentos finais, diz (em inglês soa melhor): Did I play well my part in this comedy called life? Eu fiz bem o meu papel nessa comédia chamada vida? Se é assim, sob aplausos, deixai-me retirar-me do palco. Tinha sido senhor do mundo durante meio século, reconstruíra Roma, fundara um império que duraria séculos e cujas instituições até hoje permeiam nossa sociedade. Outro imperador romano, Adriano, nos momentos finais, depois de um longo reinado de realizações, construções, viagens (e guerras), sofrendo de uma doença super dolorosa, faz uma poesia que acho belíssima:

Animula vagula blandula
Hospes comesque corporis
Queæ nunc abibis loca
Pallidula rigida nudula
Nec ut soles dabis iocos

Alma minha, bela, esvoaçante,
Hóspede e companheira do meu corpo
Por que já não te vais embora,
já que pálida, rígida, nua,
Não tens a beleza de outrora?

Não são sentimentos ruins, não, nostálgicos, só. Vidas completas, de tantas realizações - que guardavam potencial para tantas mais... assim, o sentimento varia entre a saudade e vontade de permanência, com esse "sob aplausos deixai-me retirar-me do palco". No zen, há que se viver sob o "nobre caminho dos oito aspectos" - Ponto de Vista Correto, Pensamento Correto, Fala Correta, Ação Correta, Meio de Vida Correto, Esforço Correto, Atenção Correta, Concentração Correta - que pretendemos percorrer, para terminar como nessas ruminações do Manoel Bandeira, outro a falar sobre travessias:

Consoada

Quando a indesejada das gentes chegar
(Não sei se dura ou caroável),
Talvez eu tenha medo.
Talvez sorria, ou diga:
- Alô, iniludível!
O meu dia foi bom, pode a noite descer.
(A noite com os seus sortilégios.)
Encontrará lavrado o campo, a casa limpa,
A mesa posta,
Com cada coisa em seu lugar.

Nenhum comentário: