30 de nov. de 2008

Cultura Popular

Um dos grandes quixotes e das minhas grandes admirações, o Ariano Suassuna, fez em uma de suas aulas espetáculos uma definição fantástica sobre a luta entre cultura popular, cultura erudita, cultura alienígena: o que a gente tem que fazer é fortalecer a nossa cultura, de modo que qualquer cultura que venha de fora não seja uma influência que nos diminua, enfraqueça ou descaracterize, mas sim uma incorporação que nos enriqueça. Aí abaixo vão os vídeos com essas digressões do Ariano. Acrescento umas poucas linhas: o rap, hip hop e rock foram aqui deglutidos e incorporados, dando origem a versões brasileiríssimas; o Mangue Beat está aí como um resultado de fusões que em nada perdeu da sua raiz popular, assim como anteriormente a MPB tinha se beneficiado não só das raízes brasileiras mas da cultura erudita e do jazz americano e influências européias. Na década de 80 o Brasil sofreu uma "invasão cultural", uma imposição de cultura de massa, Rock in Rio, úscambau. Hoje praticamente 70%, talvez mais, das músicas que tocam nas rádios são nacionais. A discussão sobre qualidade, etc., continua válida, claro. Produzimos e imitamos muita porcaria, a maior parte é porcaria. Mas o axé, tão criticado, foi uma fusão derivada de percussões de raízes africanas, ritmos caribenhos e música tradicional nordestina. Tudo fundido e na minha opinião, é ruim (além de alto, estridente e irritante). Mas é uma reação e uma prova de vitalidade da nossa cultura e da inventividade nativa - muito melhor que a aceitação passiva. A própria força da nossa cultura se encarrega de, com suas armas, reagir à invasão alienígena e degluti-la. Isso, como bem diz o Ariano, sem ninguém fazer nada a respeito. Imaginem se fizéssemos alguma coisa! O tal "gosto popular" é manipulado, sempre foi. O fácil vence quase sempre; o novo precisa de espaço, de ajuda. Não conheço respostas, só perguntas... fazer como o Ariano nessas aulas pode ser uma das gotas dágua no oceano, mas como no poema zen, a lua inteira brilha numa gota de orvalho.
Aqui, a fala final da aula, que achei extremamente acurada e justa:



Aqui, ele mostra as composições populares em contraponto às formas eruditas, desautorizando a opinião de que a arte popular é uma arte simples, simplória e sem apuro estético.

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