25 de nov. de 2008

Ideologia


Não é prudente nem econômico abandonar uma ideologia só porque saiu de moda. Pois, no fundo, ela é a própria moda. O que você tem a fazer é encurtar um pouco a bainha, mandar tingir de outra cor, alargar um pouco nos ombros, apertar aqui assim na cintura, colocar uns babados e, pronto! a ideologia está de novo ápitudeite; você pode sair à rua com ela. Ninguém vai notar que já está com mais de dez anos de uso.
Isso aí é do Millôr. Estou em Salinas, onde a inércia pode ser definida como a força que a política faz para matar qualquer tentativa de progresso. Um microcosmos do país como um todo. Na verdade, onde foram parar as ideologias? Onde foram parar as bandeiras? Eram perigosas, às vezes imbecis, eram instrumentos de dominação ou de tentativas de abarcar o poder, mas também eram formas de organizar o mundo, de ver o mundo, formas de mudar, idéias, ainda que deturpadas. Ou utopias inocentes. Ou utopias, pura e simplesmente. Disfarces de garras autoritárias, às vezes. Mas formavam conjuntos propositivos. Se como diz o Millôr, ideologia é a própria moda, andamos todos nus hoje em dia. Não é melhor, pois enquanto povo estamos longe de sermos bons selvagens.
Ou como diria o Lula se explicando: o diabo é que toda ideologia tem que ser baseada num orçamento...

Um comentário:

debi sarmento disse...

Não estamos nus! Estamos vestidos à revelia, adotando - sem "decidir" fazer isso - a resposta de don Tancredi Falconeri ao príncipe Fabrizio de Salina: "Si vogliamo che tutto rimanga como è, bisogna que tutto cambi". Vestidos de roupas puídas... ou de uma rede, como Pedro Malazartes...