Robertinho não perdia missa.
Robertinho era um dos loucos de estimação de minha cidade, Salinas. Alcoólatra e doido, mas muito querido, engraçadíssimo – durante o dia, muito solícito, ajudava carregar compras, dar recados, pequenos serviços por uns trocados para a cachaça. Lembro dele cantando sempre uma melodia esquisitíssima, “tudo que também chamou Robeeeeeéérto! Ô Robérto, rapáiz!”, e se beijava, dava beijos nos próprios braços, uma figura.
Na missa de domingo, o padre põe o dedo na ferida:
- O grande problema de Salinas é o álcool! O álcool destrói a juventude dessa cidade...
- O álcool corrói o tecido social, desagrega a família, diminui o indivíduo...
E continua:
- Enquanto a população não tomar consciência desse problema, o álcool vai continuar sendo o grande assassino de sonhos da juventude de Salinas...
Nisso Robertinho não se agüenta e, de pé, levanta a voz revoltado:
- Também, de besta, esses meninos, seu Padre! Com tanta cachaça boa esse povo vai tomar logo álcool!
Entrelinhas, entremontes
Há um ano
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