29 de set. de 2008

Falsa Cultura

Inspirado, acho, no Tolicionário, o Dicionário das Idéias Feitas do Flaubert, Millôr criou esses achados que chamou de falsa cultura; começo com os dele e vou dando continuidade com os meus:

  • Bêbado e pêndulo são dois pronomes oblíquos
  • Os árabes são um povo muito semítico
  • Na Mesopotâmia, foram encontrados fósseis com milhões de anos de vida

Essa confrontação com idéias feitas é genial... algumas das peças do Millôr abordam essa calcificação da imbecilidade. Falta sempre alguém pra gritar que o rei está nu. Uma definição:

  • As classes altas são, naturalmente, as mais educadas e refinadas. As classes proletárias têm menos educação e requinte. E tem ainda a classe média, que diz muito palavrão e é sempre contra.

  • Os Serviços de Atendimento ao Cliente (SACs) começaram com a construção do Muro das Lamentações em Jerusalém
  • Filosofia é uma coisa que discute filosofia

* A penúltima é minha.

26 de set. de 2008

Cadernos de Guerra - Vídeos

Criei um novo blog para organizar meus vídeos; desde que comecei com este blog, comecei também a postar no Youtube vários vídeos, desde trecos antigos que tinha gravado (e são dezenas de horas de documentários, entrevistas, etc) até coisas mais recentes, aquisições e descobertas. A minha página de vídeos do Youtube me espantou pelo número de visitas, atualmente quase 200 mil pessoas já viram os vídeos. Não é extraordinário comparado a vídeos que sozinhos têm quase 4 milhões de visitas, mas esses são os hits da rede. Os meus vídeos vão desde documentário da formação do povo brasileiro, aulas de filosofia, entrevistas, filmes que não saíram no Brasil, personagens quase desconhecidos, em suma: difíceis de engolir, achei inicialmente. Estava errado: se não são um hit, apesar disso o número de visitas é bastante generoso. Mas no Youtube estavam desorganizados e a estrutura do serviço não permite uma organização temática, assim vídeos do mesmo assunto ficam distantes uns dos outros, não há uma sequência, uma linearidade, por assim dizer. Vou passando aos poucos para o novo blog, Cadernos de Guerra - Vídeos. E as primeiras postagens (cliquem para ir para a página):

Brasil, Brasil - Tropicália Revolution - BBC
Documentário da BBC sobre música brasileira. Essa segunda parte conta a trajetória da música brasileira junto com os acontecimentos da época, a ditadura, a guerrilha, 68, era de Aquarius... mas a visão é um tanto diferente da que a gente tem, um certo estranhamento com as opiniões e visões, já que a comparação que fazem e o referencial que têm é a música inglesa, que nesse mesmo período estava com sua própria revolução, Beatles, Stones, Pink Floyd, etc.

O Povo Brasileiro - Matriz Tupi
Baseado no livro homônimo de Darcy Ribeiro, com o prórpio, Chico Buarque e outros. Primeira parte com a nossa "herança índia" até a chegada dos portugueses, a Matriz Tupi, os "brasis", índios e sua cultura. Formação do povo brasileiro, como no livro de Darcy Ribeiro.

Fernanda Torres - Entrevista no Estúdio Brasil
Entrevista-encontro da Fernanda Torres no Estúdio Brasil, da STV: mais um "achado arqueológico" nos meus trecos. Parte 1: Nesse trecho, ela conta o início da sua carreira, os "micos" iniciais, a infância como filha de dois monstros sagrados do palco, Fernanda Montenegro e Fernando Torres (mais na página).

O Impacto de Nietzsche no Século XX
Abaixo, texto do Oswaldo Giacóia, filósofo, sobre Nietzsche - acompanha vídeo da aula dada por ele em Porto Alegre, se não me engano. Adoro Nietzsche, e por mais engraçado que possa parecer, sempre achei que se ele fosse um pouco menos esquizóide ia deixar o Bernard Shaw no chinelo... Digo, como criador de chistes e bon mots, como filosófo está sempre acima e além de quase todos os outros, suprasumo e nêmesis do idealismo alemão. Mas o que ele empreendia era uma reconstrução radical do homem, essa filosofia a golpe de martelos que me encanta desde a adolescência (mais na página).

24 de set. de 2008

Biocombustível

Duas "visões estrangeiras" com que me deparei nos últimos dias: consegui um documentário ótimo da BBC sobre música brasileira (mais aqui), estou colocando no Youtube sem legendas mesmo, depois vejo se vou ter paciência de traduzir. Essas traduções estão me tomando muito tempo... e eu quero tempo pra poder continuar com o italiano, não melhorar o inglês, por enquanto os amigos vão ter que se contentar com o sotaque salinense falando "uát táim îs îh ti?".
No documentário, a trajetória da música brasileira junto com os acontecimentos da época, a ditadura, a guerrilha, 68, era de Aquarius... mas a visão é um tanto diferente da que a gente tem, um certo estranhamento com as opiniões e visões, já que a comparação que fazem e o referencial que têm é a música inglesa, que nesse mesmo período estava com sua própria revolução, Beatles, Stones, Pink Floyd, etc.
A segunda "visão estrangeira": conheci duas canadenses através do Soulseek, elas procurando música brasileira e eu procurando jazz... início de uma boa amizade virtual, através delas conheci a Anna Karina, a Jane Birkin. Algumas bandas de drum'n'bass, também, mas eu descontei mandando Luiz Gonzaga, Tom Zé e Elomar e Hermeto, a sétima cavalaria dissonante. Taí, olha que nome legal pra uma banda: Hermético e a sétima cavalaria dissonante! Bom, fim de semana elas estavam alvoroçadas de tudo, já me receberam com um "Vocês estão produzindo biocombustível com SAAAANGUEEEE!!!!!!!". Não entendi nada, aí me mandaram para os sites da Bloomberg, Newsweek e outros - reportagens e reportagens sobre a exploração desumana dos bóias-frias, trabalho escravo nas lavouras de cana, etc. O tal orgulho nacional me fez escrever que ainda saía mais barato que o Iraque em vidas, mas não colou nem pra mim. Fica então o registro: o biocombustível pode ser moderno, mas nós, como sociedade, ainda estamos na infância da arte. E fechar os olhos não resolve.



19 de set. de 2008

Casos Salinenses - Pescaria

Os dois amigos iam de novo para o Araguaia: esses dois salinenses eu conheci bastante... homens sérios, direitos, super trabalhadores, colhiam os frutos de uma vida inteira de esforço; ainda não estavam nem na meia idade e já ricos, ou quase, ou ficando. E uma vez por ano, tradição, arrumavam armas&bagagens e voavam para o Araguaia. Descanso merecido, única pausa do trabalho que se permitiam, o defeito é que as esposas ficavam furibundas por conta disso - o único período do ano em que eles não estavam se matando de trabalhar e não passavam com elas.
Mas naquele ano, 2003 ou 2004, se não me engano, elas deram o grito: ou iam junto, ou nada de Araguaia! E ponto final! E os maridos tiveram que concordar, não deixava de ser justo. E foram todos, enfim. Pescaria ótima, sol o tempo todo, todos muito alegres, as mulheres cozinhavam, todos farreando, melhor período juntos em anos. E ao fim da segunda semana, levantaram acampamento, e, outra tradição, dirigiram até o bar da região, amigos do dono, mostrar os peixes, levar as cachaças encomendadas, contar caso, adoravam. No bar, chegou o dono, numa alegria só:
- Meus compadres! Parece que já se passaram dez anos e foi um só, que saudade! Cachaça de Salinas? Tem que ser uma terra especial de boa pra fazer uma cachaça dessas! Mais um ano! Ôoô, pescaria boa, cada peixão! Dêem cá um abraço, já mandei preparar uma farofa, um tiragosto... pescaria boa mesmo, olha aquele dourado...

E arrematou, apontando para as esposas:

- Só as raparigas esse ano é que pioraram demais! Vixe, que trubufús!

Os papéis dos divórcios saíram rápido. Uma das mulheres concordou em voltar para o marido tempos depois, mas nenhum dos dois come peixe mais. Aliás, não comem nem falam em peixe na casa deles.

18 de set. de 2008

O prazer do que é difícil - Machado de Assis

Divulguei no Youtube há alguns meses trechos do documentário Procurando Ricardo III, do Al Pacino, onde ele ao mesmo tempo mostra como interpretar Shakespeare e como entender Shakespeare, procurando mostrar as dificuldades do texto para leitores atuais, amenizá-las e explicá-las de modo que o texto possa chegar com toda a sua força para o leitor/espectador moderno. São os meus vídeos mais comentados, principalmente por professores - infelizmente, todos americanos, britânicos, etc. Não há um único post em português, e nós temos alguns dos melhores tradutores de Shakespeare do mundo, como o Millôr, que não só entendem o texto como conseguem transcriá-lo de forma inteligível - mas não fácil, e aí tem que pensar, acabou. Essa nossa preguiça de pensar, a ignorância olímpica de contextos históricos, de um mínimo cultural basilar, me dá vontade de pegar um chicote e expulsar os vendilhões da "academia". Hellman's tem poder: não era do Jaquespére que eu ia falar, mas do Machado: não adianta, não consigo deixar de achá-lo superestimado. E chato. Mas acho que tomei um pouco de antipatia por conta do auê em torno dele, como se fosse o "nosso" representante nas altas esferas das letras. Acho que os únicos a atingirem alguma estatura frente ao resto do mundo foram o Guimarães Rosa e o João Cabral de Melo Neto, os demais ainda estavam na infância da arte. Machado é no máximo um Rubinho Barrichelo mais chinfrim. Aí um professor me vem com a "revolução formal" do Machado, a apropriação de um discurso irônico que desnuda as relações sociais da época, etc.: acho bom, realmente. Mas acho bom do mesmo modo que acho o Klint legal mas não acho que vale o cadarço do Dali... Enchi, né? É que já estou me defendo das críticas. Mas que é chato, é - e aqui todo mundo ainda gosta porque teve de ler depois de ler José Alencar, esse povim, e o Machado é bom, escreve bem, etc. Comparado a esses tipos que a gente tinha que ler, dá de 10. Mas não vale o cadarço do Tolstói. Um curta/documentário ótimo, com o Mindlin lendo e o Schwarz comentando, lança luz na importância do texto dele enquanto revolução formal:

Parte 1/3


Parte 2/3


Parte 3/3

16 de set. de 2008

VHS - Fernanda Torres

Acho que a única vantagem do VHS é que pudemos gravar coisas que passaram só na época do VHS. Entre minhas dezenas de fitas ainda por digitalizar, encontrei essa entrevista da Fernanda Torres em um programa da STV chamado Estúdio Brasil, entrevista com atores para uma platéia de pretendentes a atores - uma emulação do Actor's Studio, apresentado pelo Jefferson Del Rio. Há pouco tempo faleceu o pai da Fernanda, o Fernando Torres, marido da Fernanda Montenegro - grande ator, tive oportunidade de vê-lo uma única vez. A Fernanda eu vi a primeira vez aqui mesmo em BH, na primeira montagem da peça The Flash and the Crash Days, do Gerald Thomas, contracenando com a mãe - e tinha uma cena comentadíssima, onde ela e a Fernanda Montenegro têm uma relação incestuosa. Saí do Palácio das Artes querendo uma camiseta que saiu na época: "Eu entendi uma peça do Gerald Thomas". Mentira, claro. Saí com a impressão que ou o sujeito era realmente genial e eu tinha perdido o sentido da coisa ou era o maior marqueteiro vivo. Bão, selecionei esse trecho onde ela fala do Marvada Carne, do Quarup e do Eu sei que vou te amar - e esse último eu vi ainda em Salinas, quando lá tinha cinema! Acho que lá eles dividiam as seções assim: um dia, Faroeste ou Kung Fu; outro dia, um filme qualquer pra encher lingüiça; no dia seguinte até o fim da semana, pornô. O da Fernanda foi no dia "filme pra encher lingüiça", com quase 10 pessoas no cinema.

PS: Ainda se usa trema em lingüiça? Ou só carne mesmo?


13 de set. de 2008

Sobre casos & fatos

Abaixo, continuação da aula espetáculo do Ariano Suassuna, com o poema medieval A donzela que foi à guerra, do cancioneiro português. Aproveito para usar um caso que o Ariano conta para me "defender" de algumas pequenas adaptações nos casos:
O grande pintor francês Matisse um dia chega a uma exposição sua e vê um sujeito dando gargalhadas diante de um quadro:
- Meu senhor, o que é que há nesse quadro de tão engraçado?!
- É que essa mulher está com a barriga verde!
- Meu senhor, isso não é uma mulher, isso é um quadro!
E o Ariano segue citando Goethe: se um pintor conseguir pintar um cachorro exatamente igual ao cachorro original, ele não vai conseguir um quadro, vai conseguir um cachorro a mais...
Dito isso, os casos nem sempre são fatos verídicos reais de verdade que aconteceram mesmo. Ou, na sua maioria, aconteceram, e são contados muito próximo do acontecido, como esses que comecei. Mas são casos, não reportagens.
Com a palavra, Ariano:

10 de set. de 2008

Casos Salinenses - Galinha

Isso aconteceu na época de segundo grau, eu estudava fora, em Lavras. Quando ia para as férias em Salinas, era uma festa só – os quatro cavaleiros do Apocalipse: eu, Jesão do Vale, Gatim e Marcão. Quatro vagabundos diplomados, farristas, boêmios, loucos. A farra era tocar violão, ir para o rio Bananal à tarde com melancia e colocá-la debaixo das “quedinhas d’água” pra esfriar, ir para a roça com Gatim, farra de férias, mesmo. Ah, e as serenatas à noite, claro: fazíamos serenatas elaboradas, ensaiadas, e as famílias abriam as portas, davam cerveja, salgados, faziam uma carninha de sol, uma lingüiça...
E, é claro, no final da noite havia o roubo da galinha. Porque se não tivesse galinhada, era perigoso a gente ser excomungado, sei lá – algum tipo de quebra de código de conduta, algo assim. E não servia galinha comprada, não! Nem levada de casa: tinha que ser decentemente roubada, como mandava o protocolo (eu mesmo de vez em quando “achava” umas galinhas que tinha comprado de tarde, pra não ter aquele trabalhão todo). Um belo dia, eu e Jesão fomos os escolhidos para o feito. A vítima era da beira do rio, perto da ponte – e o rio era um filetezinho de água, época de seca, passávamos por baixo da ponte, andávamos em cima daquele areal todo, dava pra “parar o rio com o pé”, como a gente brincava.
Chegamos e o galinheiro tinha uma única e solitária galinha, coitada, já com encontro marcado com o destino. Depois de inúmeras tentativas bêbadas e obviamente mal sucedidas, conseguimos cortar o arame do galinheiro – e a maldita da galinha, ao invés de ficar parada esperando a torcida de pescoço, cai no mundo. E nós atrás, que aquilo não podia ficar assim. Jesão girava a viola tentando acertar a fugitiva, mas além de me acertar o cocuruto, quando conseguiu acertar a galinha fez igual uma jogada de golfe: a meliantezinha foi parar quase do outro lado do rio, de onde só seguiu carreira. O barulho que fazíamos também teria matado uma galinha de compleição mais frágil de susto – mas a miseravelzinha corria como se a vida dependesse daquilo.
Nisso, pára na ponte uma viatura e desce o Vino, Cabo Alvino, que era amigo mas também não podia fazer uma vista tão grossa assim praquela zona:

- Bonito, hein!?! Peguei no flagra... em pleno centro da cidade! Sem vergonhas...

Mas Jesão, já no desespero com a fuga da miserável, interrompe aos gritos apontando freneticamente pra galinha:

- Olha ela lá! Atira, Vino, atira! Tá fugindo! ATIIIIIIIIRAAAAAAA!


Não vi mais a galinha. A grande façanha da noite foi convencer Vino de que não devíamos ir pra cadeia, já que não havia prova material do roubo, etc., etc. Além do quê, raiva fazia a pressão subir e fazia mal pro coração.

PS: Abaixo, brincadeira com "videomaking" - e comigo mesmo.

6 de set. de 2008

Casos Salinenses - Álcool

Robertinho não perdia missa.
Robertinho era um dos loucos de estimação de minha cidade, Salinas. Alcoólatra e doido, mas muito querido, engraçadíssimo – durante o dia, muito solícito, ajudava carregar compras, dar recados, pequenos serviços por uns trocados para a cachaça. Lembro dele cantando sempre uma melodia esquisitíssima, “tudo que também chamou Robeeeeeéérto! Ô Robérto, rapáiz!”, e se beijava, dava beijos nos próprios braços, uma figura.
Na missa de domingo, o padre põe o dedo na ferida:
- O grande problema de Salinas é o álcool! O álcool destrói a juventude dessa cidade...
- O álcool corrói o tecido social, desagrega a família, diminui o indivíduo...
E continua:
- Enquanto a população não tomar consciência desse problema, o álcool vai continuar sendo o grande assassino de sonhos da juventude de Salinas...
Nisso Robertinho não se agüenta e, de pé, levanta a voz revoltado:
- Também, de besta, esses meninos, seu Padre! Com tanta cachaça boa esse povo vai tomar logo álcool!

3 de set. de 2008

Sapiências e paciências

Cheguei de palestra & mesa redonda sobre filosofia oriental: o Mundo Como Vontade e Representação, do Schopenhauer - que segundo Garcia Morente, pode ser tudo mas não é filosofia. Não que o resto da obra do Schopenhauer não seja filosofia, mas a parte "oriental", digamos, é uma criação filosófica ocidental em cima da raiz oriental... e chega, enchi. Já comecei escrever lembrando de uma história do Vinícius de Moraes, aqui em Minas: o Vinícius vem aqui, já poeta consagrado e tal, endeusado pela "mocidade" da época, ainda não estava na fase MPB dele. E aí o Fernando Sabino, o Hélio Pellegrino, Otto Lara, aquela gangue, cada um falando mais do que o outro, atropelando as palavras, cada qual querendo mostrar mais cultura, conhecimento e inteligência do que o outro. E o Vinícius na dele. Aí, uma bela hora, ele olha ao redor, mexe o gelo no copo de uísque com o dedo, vira pra turma e solta: "Bom mesmo é mulher!..."
Pra lembrar que viagens demais são muita viagem, e bom mesmo é mulher. Deixa Schopenhauer, Ortega y Gasset, Morente e úscambau com as nêga deles pra lá.


PS: Levei horas e mais horas traduzindo e legendando um documentário sobre o Stephen Fry, deslindando jogos de palavras, sincronizando legendas, e coloquei no Youtube achando que estava fazendo um favor à "cultura nacional", apresentando um pouco mais do Fry por aqui. Hoje fui ver as estatísticas e 95% das pessoas que vêm o vídeo são americanas e inglesas - e devem estar achando um saco o vídeo com legenda... só rindo, mesmo.

2 de set. de 2008

Fazendo pessoas

Ganhei de presente de aniversário da minha irmã um livro de experiências filosóficas - coisas como inventar uma pessoa, se imaginar invisível, ouvir a própria voz. A maior parte experiências de estranhamento e deslocamento que são muito comuns no zen, especialmente na escola Rinzai. Combinamos de escrever sobre as experiências, mas ainda não vou começar; é que quando li sobre uma das experiências, a de inventar uma nova pessoa, relacionei imediatamente com filhos: minha irmã está grávida, a Lôra e o Helder acabaram de ter o Breno, Michael está de herdeira nova; Seinfeld dizia que ser pai traz uma sensação de poder, de olhar de cima pra baixo para o resto dos mortais e dizer "EU sei fazer as minhas próprias pessoas"...
Aí, domingo fui buscar uma amiga que estava fazendo concurso na UFMG, e sentei debaixo de uma árvore pra tomar sol, de olhos fechados – veio um porcariinha de dois anos e sentou no meu colo! E a irmã com asas, acho que da primeira comunhão ou algo assim: peguei o mocinho e fiz avião com ele. Ah, pra quê: vieram TODOS os meninos que estavam lá pra eu “ensinar a voar”. Deu vontade de roubar um pra mim e sair correndo. Ontem fui ver o Forrest Gump de novo, adoro aquelas cenas finais com o mininim dele. Acho que eu é que vou começar a pensar em fazer minhas próprias pessoas - daqui a uns anos, acho, quando tiver tempo de passar boa parte do dia brincando e contando histórias, que vou aproveitar pra ter infância de novo.

Abaixo, mais um trecho do 50 not Out, do Stephen Fry - pulei três outras partes porque os jogos linguísticos ainda estão me esquentando a cabeça.