Peguei hoje isso do Mencken: "uma campanha política é ainda melhor do que qualquer circo de que já se ouviu falar, mesmo com uma missa e uns enforcamentos no espetáculo". Acho incrível a capacidade das pessoas se emocionarem com futebol, por exemplo, ou carnaval - a torcida, a paixão, o esforço e as lágrimas que correm por um time, uma escola, um ídolo... mas são incapazes de despender um décimo da energia em aprender, em organizar-se, em ajudar-se. Ajudar a si próprio não é um pecado tão terrível quanto se negar, se obliterar, mera sombra ou autômato, fugaz imitação de humano. Acho que todo o esforço da "cúpula" atual é convencer a todos que o tecido social está tão emaranhado, é tão intrincado e complexo e cheio de nuances que não se pode tentar moldá-lo, sob pena de desabar o edifício inteiro: fazer esquecer que, por maior que seja a tribo de bípedes agora, ainda se rege por um contrato social, conveniência e convergência de forças, impulsos, desejos, virtudes, defeitos, de uma miríade infindável de mentes. Que se deixam reduzir a essa massa amorfa, caricatura bizarra de si própria.
Entrelinhas, entremontes
Há um ano
Um comentário:
"Se tudo parece meio sem sentido, leia As Cidades Invisíveis."
As Cidades Contínuas 4 diz muito. Calvino constroe as cidades como seres autônomos. As pessoas, se existem, são engolidas, manipuladas pela cidade.
O viajante é um observador distante, raro indivíduo livre que as cidades contínuas consegem desnortear.
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