17 de ago. de 2008

Zen

Cheguei do mosteiro zen Pico de Raios, quebrado de tanto pintar parede e com tanta poeira no corpo que tive de tirar com espátula... mas é uma delícia. O período de trabalho é chamado samu, e devia ser uma prática tão introspectiva quanto as outras, não fosse eu um falastrão inveterado, que arrasto todo mundo pra contar caso e conversar. O zen, pra quem não conhece nada sobre o assunto, surge na China de uma junção entre budismo indiano, taoísmo e confucionismo, sendo depois acrescido, no Japão, de tradições de disciplina, artes, o bushido (caminho do guerreiro), etc., até adquirir sua conformação atual. E a conformação atual é a de quebra de paradigmas e destruição de absolutos: nada é. O surgimento mítico se dá quando Kashyapa, discípulo de Buda, dá uma risada quando o Buda histórico chega com uma flor entre os dedos e ao invés de falar qualquer coisa, fica olhando a platéia sem dizer nada, apenas girando a flor - sendo interrompido então pela risada, e dá a flor ao Kashyapa, como espécie de símbolo de transmissão. Com um sentido um pouco diverso Nietzsche diz rir de todo mestre que não riu de si também. E acho essa a essência do zen: viver sem as próteses e convenções sociais, sem os absolutos religiosos, morais, somente com o mais íntimo do seu ser. Claro, essa é uma visão pessoal - mas o meu ideal, digamos assim, é conseguir uma junção entre o zen japonês e a paidéia grega; a formação do homem grego incluindo essa dose de ceticismo crítico-criador... e chega, enchi. Quando começo essas viagens, uma amiga sempre exclama: Hellman's tem poder! Super viagem na maionese! Pode ser que sim - citando o Giacóia: "Isso explica por que, para o Nietzsche, o riso e a paródia são operadores filosóficos inigualáveis: eles permitem reverter perspectivas fossilizadas. Nietzsche, o impiedoso crítico das crenças canônicas, é também um mestre da ironia. Sua ambição consiste em tornar superfície o que é profundidade, restituir a graça ao peso da seriedade filosófica".



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