27 de set. de 2007

Tirinhas

Sou completamente viciado em tirinhas, servem como substituto melhorado a hipérboles, metáforas, parábolas; algumas são quase koan, recortes no tempo com o toque de absurdo e iluminação de aspectos da realidade ou da nossa psicologia mais interna; os modos escondidos de funcionamento da e na sociedade, essa imensa máquina de gastar gente. Algumas:

Submundo pop: como expressar melhor do que essa tirinha o sentimento de perplexidade do índivíduo aqui na Obra? Se bem que tem uma do Carl Barks...


O sentimento inato do gosto pelo pecado:



24 de set. de 2007

Povo Brasileiro I

“Te faço, me deixe, espie - a ama negra fez muitas vezes com as palavras o mesmo que com a comida: machucou-as, tirou-lhes as espinhas, os ossos, as durezas, só deixando para a boca do menino branco as sílabas moles”. Esse trecho (bonito!) do Gilberto Freyre mostra a fusão cultural na linguagem, entre negros e portugueses – o mesmo ocorreu com os índios. Me fez pensar: dos três povos principais, apenas os portugueses tinham uma sociedade hierarquizada, estratificada; negros e índios viviam de forma comunal, mesmo quando, no caso africano, já tinham dominado o ferro e a moeda. A alma individualista, personalista, que tanto mal fez e faz ao Brasil, é ibérica. O torpor social, a aceitação passiva, a cordialidade, a conciliação: também. A essa tendência juntou-se a comunal aceitação tribalista, a acostumada obediência ao senhor. Tudo o que se fez de grande, no Brasil, dependeu da vontade férrea de indivíduos: raríssimos os movimentos coletivos criadores de algo que não fossem fazendas no ar. E não venham me dizer que a Coluna Prestes ou Canudos foram exemplos de movimentos coletivos: desaguaram nessa forma pela vontade demiúrgica de seus chefes ou fanáticos religiosos. Vargas, Juscelino, Chatô, Mauá e tantos outros: fizeram sua versão de Brasil, para melhor ou para pior. A outra imensa maioria só se aproveitou dessa que está aí e vai há séculos empurrando o povo para a miséria e para o aprendizado da sobrevivência apesar do governo.

20 de set. de 2007

Divagações

Estou relendo o Paidéia, do Werner Jaeger: da primeira vez me perdi muito, pulei pedaços, me confundi um pouco. Ao mesmo tempo, estou passando para o Youtube O Povo Brasileiro, série de programas baseado no livro do Darcy Ribeiro. Não foi consciente, mas escolhi duas obras quase paralelas: o nascimento de um povo, do Darcy, e o nascimento de um ideal de povo (ou do indivíduo formador do povo), do Jaeger. Achei ótimo comparar esses dois “partos”, principalmente porque ainda trazemos o olhar ocidental, branco, mesmo que tenhamos interiorizado partes do negro e do índio; o modernismo fez a propaganda errada, a antropofagia já tinha sido toda feita, a digestão é que estava complicada. Muito do que somos e que nos diferencia do ideal grego poderia ser aplicado no modernismo se se considerasse a proposta antropofágica uma des-priorização da visão branca ocidental, cristã e latina, substituída pela sagração da visão mestiça resultante da formação do nosso povo. A individualidade e a “pensação” gregas em sua evolução purtuga, agregada aos ritmos, sons e cores, sensações e forças do índio e do negro. Parece um bocado a confusão do Descartes no Catatau do Leminski: distraídos venceremos. Os vídeos são os seguintes (colocando só os hiperlinks; a divisão se deve ao limite de tempo de 10 minutos):
Matriz Tupi - Matriz Tupi A, Matriz Tupi B, Matriz Tupi C
Matriz Afro - Matriz Afro A, Matriz Afro B, Matriz Afro C
Matriz Lusa - Matriz Lusa A, Matriz Lusa B, Matriz Lusa C
Encontros e Desencontros - Encontros e Desencontros A, Encontros e Desencontros B, Encontros e Desencontros C
Brasil Crioulo - Brasil Crioulo A, Brasil Crioulo B, Brasil Crioulo C

16 de set. de 2007

Pasquim

Na sexta, dia 14, passou na STV um documentário sobre o Pasquim, ótimo – eu adorava o Pasquim, e olha que conheci já na fase de decadência. Eu tinha acabado de sair de casa, estudando fora, em Lavras, e consegui assinar o Pasquim, o que pra mim era uma glória. Me senti revolucionário, esquerdista, pronto pra ingressar num exército vermelho por aí. Eu achava na época que “alternativo” era uma palavra que quando aplicada à gente já vinha com medalha e diploma. Pois a o Pasquim representava toda uma idéia de esquerda, os intelectuais que enfrentavam atrás de máquinas de escrever a grande ditadura dos generais, com seus tanques e armas... completamente idealizado, claro, mas as pessoas que eu mais admirava falavam com admiração daqueles sujeitos, da história do jornal, etc. Como foram inventando novos formatos, abordando novos assuntos, descobrindo gente nova, talentos novos (Elomar, meu grande Elomar foi um deles). E tudo isso com humor – e no buteco, que eles bebiam que não era brincadeira. Sérgio Cabral (o pai, não a besta): "Um jornal feito por amigos e sem patrão. Todos pensavam diferente, mas éramos de oposição, e isso unia todo mundo. Outra coisa que nos unia era a cultura. Eu era do samba, execrado pela maioria. E, tirando a mim, tinha o talento das pessoas. E a liberdade total. Só havia censura externa". Pois é, acabou – e eu vi o fim: passou de semanal para quinzenal (com os caras de pau anunciando para os assinantes que a gente tinha “ganhado” o dobro do tempo de assinatura...), e por fim foi se espaçando até finalizar; eu já não era assinante, estava em BH, dava pra comprar na banca. Um dos Pasquim que eu me lembro muito foi da morte do Leminski: cheguei de Salinas, indo pra Lavras, e aquela charge do Polaco Louco no buteco, com um castelo de cálices na frente, ele dando um peteleco no último e mandando tudo pras cucuias. Putz, fui arrasado pra Lavras, recitando tudo quanto era poesia dele que eu lembrava – “cinco bares, dez conhaques/ atravesso São Paulo/ dormindo dentro de um táxi”, “pariso, novaiorquiso, moscoviso/ sem sair do bar/ só não levanto e vou embora / porque tem países que eu nem chego a madagascar”. A PUC tinha uma coleção, empoeirada e se desmanchando, li e reli muito. Mas chega, enchi. Ficam aqui duas cositas: uma, a tirinha original (achei! Achei!) do choppnics (Jaguar), com a frase mais que famosa; e outra, um pedaço do documentário, com Jaguar contando a criação e a morte do Sig, hilário.

O vídeo:

14 de set. de 2007

Chico Buarque

Como eu disse anteriormente, tenho dezenas de coisas que gostaria de compartilhar - algumas com aquele sabor gostoso de comida de vó, outras guardadas com uma ponta de orgulho, ou presentes de amigos, etc. Como as "34 letras", acho que a melhor revista de literatura que já tivemos, me foi "aplicada" por Junim, cangaceiro a serviço no Rio Grande do Sul; ou "O povo das montanhas negras", descoberta do Nagib que me encanta até hoje; e outros tantos, por aí. Vou aos pouquinhos, principalmente porque a parte escrita está mais complicada (escanear e juntar texto com figura, num modo que se encaixe nessas páginas exíguas de blog). Mas a parte de vídeo está indo bem, assim aqui estão dois exemplos de gostosura: uma neguinha dançando, do Chico, linda, linda, em Essa moça tá diferente; e outra do Chico, trechos de Joana Francesa, filme, com a Joana Francesa, música, e com a francesa mesmo, a Jeanne Moreau, linda de morrer e com uma risada de justificar a existência de pelo menos uma mãozada de deuses mesopotâmicos:

Essa moça tá diferente:




Joana Francesa:

12 de set. de 2007

E la nave va...

Bão, gente, a intenção inicial era colocar idéias no papel, de certa forma um diálogo, acessível a críticas, conversas, etc. Não está evoluindo muito nesse sentido, não. Pelo menos por enquanto, não sei se por certo pudor meu ou falta de domínio do meio - ou melhor, percepção da dimensão que a gente pode dar a esse meio. Eu estou achando ótimo poder dividir essas imagens e vídeos, espero evoluir pra textos e músicas, depois montagens, etc. Nisso, o tempo pra conversar mesmo fica exíguo (ai). Além disso, confesso que estou apanhando um bocado, principalmente nos vídeos: passar um trecho de dvd pra o YouTube tem me exigido um bocado de trabalho, até descobrir os programas certos. E ainda nem me passa pela cabeça como diabos a gente faz pra colocar uma imagem gif do tamanho que a gente quer - aumento, aumento, e a bichinha fica do mesmo tamanho: mas o diabo do tamanho do arquivo aumenta! Outra coisa (que se alguém souber, pelamordedeus me conta) é o ViaVoice, já que tem uns textos e/ou vídeos que pra traduzir achei que seria mais fácil só falar pro computador e o miserável escrever pra mim. Mas quem disse?!? Pra configurar tem que ler um texto, e quando cheguei na palavra clareza o bicho empacou. Falei de todas as maneiras, com sotaque gaúcho, português, bicha, baiano, à la Mangabeira Unger - nada. Instalei uma versão mais nova, mas aí a palavra era explicitá-la. Ô raiva. Peguei a versão mais nova e ela não tinha português - mas, para minha mais completa surpresa, o meliantezim reconhece tudo quando falo em inglês! Sério! E olha que o meu accepted tá próximo de algo como aquicépitéd. Vai entender... enquanto isso, vários dos vídeos & poesias ou trechos de livros que eu queria postar - até pra começar a conversar - vão ter que esperar até eu aprender a colocar legenda direito, pois do jeito que eu sei dá trabalho demais. Mas tem sido excitante na parte de descobrir o funcionamento e fazer esse intercâmbio multimídia. Mcluhan, morda-se de inveja que eu tô ficando exibido nesse trem! Sim, só pra fazer jus ao aforismo de que nunca uso uma palavra só quando posso usar umas vinte: consegui fazer o primeiro upload de um trecho do País da Delicadeza Perdida do Chico, com uma neguinha dançando que tá lindo; e, pra quem viu o resultado do Renan e ficou indigado, um link com uns trechos do Henfil passando sabão em quem acha que sem levantar a bunda da cadeira vai cair um brasil novim-bunitim-honestim do céu: Diretas Já - Henfil (em pdf). Dêem uma olhada na parte onde ele fala do "Maluf de Tróia", página 6 do arquivo.

11 de set. de 2007

Tom Zé

Mais do louco. Esse vídeo está ótimo, o primeiro contato com a língua escrita e "maravilhas modernas " como lâmpada e torneira. Fico lembrando das invenções que conheci em Salinas: TV a cores (antecedida uns anos antes por uma tela de plástico de várias cores, que era pendurada na frente da tela, umas listras verticais coloridas que faziam os atores mudarem de cor a medida que iam passeando pela tela - dava uns efeitos fantásticos, imaginem o Chico Anísio ficando parte verde, parte vermelho, pra em seguida ficar rosa ou azul ou amarelo), telefone (o sem fio fui conhecer em BH) e, claro, o computador. A revista de informática conheci antes do computador de verdade, vendida numa banca de verduras do mercado.

Contos de Fada da Vida Real

Uma das minhas "comics" preferidas, Non Sequitur. Eu nunca me canso de criticar as traduções que a gente vê por aí (ontem estava brigando com a tradução do Mencken feita pelo Ruy Castro), mas vai tentar... de qualquer forma, aí está, e não deixa de ser um exercício, né? Espero ir melhorando com o tempo, nas traduções e na escrita desse treco aqui.
(clicando nas imagens elas aumentam de tamanho)













10 de set. de 2007

Renan

Para quem ainda não acha que "res publica" é uma vaca do Renan... Ainda vamos ver manchetes de "Res Publica com suspeita de superfaturamento".

Lula

Disso vou ter que escrever um bocado: a "gastura" com esse cruzamento espúrio de sindicalismo, esquerdismo, burrice, cretinice e grandes jogadas eleitoreiras que dominou o país. Não que tivesse havido melhor; mas já se pensou em propostas melhores (ou simplesmente em propostas) "nesse país". Já pararam pra pensar como serão feitas as próximas campanhas? Provavelmente promessas de aumento do valor do bolsa família, da extensão do programa, etc. E só - é o samba de uma nota só que funciona pra o Lula, e funcionará para o próximo cafajeste convicente que vier por aí. Nada contra per si; inclusão social e ações afirmativas, sim, mas deveríamos migrar esses programas para uma esfera fora do alcance do governo da vez, com uma agência reguladora, regras claras e planos a longo prazo de integração desse imenso curral eleitoral comprado com migalhas do orçamento. Putz, escrevi isso tudo pra justificar a tirinha aí de baixo:

9 de set. de 2007

Começo 2

Por sugestão de um tanto de gente, começo esse treco, então. A resistência é enorme - é quase como escrever um diário e deixar na mesa pra alguém ler, né não? Mas vá lá. Pelo menos começo - e a razão maior é sobrevivência: perdi (de novo) os dados do hd. E tinha comprado um hd só para dados, que assim ficava mais gerenciável... não deu certo. Recuperei grande parte, mas resolvi passar para a rede tudo que puder, de comentários a textos, vídeos, etc. Algo em torno, atualmente, de 2.000 horas de documentários e programas gravados (a maior parte não presta, mas está tudo misturado), mp3 pra escutar até o fim da vida, charges, quadrinhos, fotos... e muita, mas muita porcaria. Começo com esse vídeo do Tom Zé, e se aprender faço mais. Sim, cadernos de guerra era, acho eu, o nome que maister João Rosa dava aos seus rascunhos - no meu caso, a guerra vai ser COM esses rascunhos.


Começo

Misericórdia, comecei mal. Nem sei mais usar esse treco. Testando, testando...