Algumas informações interessantes: a taxa brasileira está a 12,75%. O juro de cheque especial mais barato da praça, a 6,41% ao mês! Isso dá 110,76% ao ano. O mais barato! Quer dizer o seguinte: o banqueiro que emprestar 100 reais nessa taxa, em 5 anos terá ganho R$ 4.058,59. Fora, claro, as taxas de manutenção de conta. Brecht dizia: o que é o crime de assaltar um banco perto do crime de fundar um banco? Mas nós do "andar de baixo" temos mesmo é que trabalhar, já que a única receita comprovada de enriquecimento que conheço foi dada pelo John Paul Getty, bilionário americano, dono desde poços de petróleo a estaleiros, quando perguntado sobre a fórmula do sucesso: "Acorde cedo, trabalhe muito, ache petróleo"!.
29 de jan. de 2009
Crise
25 de jan. de 2009
Lâmina de Ockham
A cada vez que ouço alguma explicação metafísica ou religiosa sobre o mundo lembro-me de Ockham, filósofo medieval inglês. A "Lâmina de Ockham" é um princípio segundo o qual, se duas teorias explicam determinado fenômeno, a mas simples será a correta. Conan Doyle adaptou a teoria para Holmes - Sherlock diz sempre para Watson: se todas as demais hipóteses foram eliminadas, a que restar, por mais absurda que seja, deve ser a verdade. O que leva à conclusão de que o mundo não faz nenhum sentido (a não ser o que atribuirmos a ele) e isso não faz a menor diferença. Um relincho vale por mil silogismos.
21 de jan. de 2009
Mondo Cane
19 de jan. de 2009
Mestres
Mestre João, que escreve com pedras, que evita a leitura fluvial - e assim fazendo, se não me ensina, me aprende a perceber uma certa mulher.
A Mulher e a Casa
Tua sedução é menos
de mulher do que de casa:
pois vem de como é por dentro
ou por detrás da fachada.
Mesmo quando ela possui
tua plácida elegância,
esse teu reboco claro,
riso franco de varandas,
uma casa não é nunca
só para ser contemplada;
melhor: somente por dentro
é possível contemplá-la.
Seduz pelo que é dentro,
ou será, quando se abra;
pelo que pode ser dentro
de suas paredes fechadas;
pelo que dentro fizeram
com seus vazios, com o nada;
pelos espaços de dentro,
não pelo que dentro guarda;
pelos espaços de dentro:
pelos recintos, suas áreas,
organizando-se dentro
em corredores e salas,
os quais sugerindo ao homem
estâncias aconchegadas,
paredes bem revestidas
ou recessos bons de cavas,
exercem sobre esse homem
efeito igual ao que causas:
a vontade de corrê-la
por dentro, de visitá-la.
16 de jan. de 2009
Céus!
Prédio da ONU atacado, foguetes continuam... mais de mil mortos! Horror, sim. Mas a polícia do Rio, sozinha, matou 1.330 pessoas em 2007. No país, acidentes de carro mataram 50 vezes mais do que isso. Desnutrição e miséria matam mais do que isso por dia na África. Essa é a verdadeira "reação desproporcional" - essas mortes são o curso natural das coisas? É o preço dos problemas mal resolvidos da civilização? Um chanceler brasileiro vai ao exterior tentar resolver o horror de uma guerra - e nós, companheiro? Esse exemplo de país avançado dos tristes trópicos, gigante em berço esplêndido, não precisa de lições civilizatórias, precisa?
Ah, uma sugestão: porque não oferecemos o Amapá, por exemplo, pra um dos lados? Os dois povos são laboriosos e esforçados, levaríamos uma grande vantagem com o desenvolvimento daquela área, e como pagamento eles podiam prometer não deixar o Sarney sair de lá.
13 de jan. de 2009
Guernica Palestina
No século II d.c., Trajano, então imperador romano, disse que preferia deixar escapar mil criminosos a punir um inocente - na prática ele não era tão leniente... Seu sucessor, Adriano, um dos grandes homens da antiguidade, tentou restaurar Jerusalém, reerguer o templo, irrigar as terras, etc. Mas queria uma cidade cosmopolita e um templo com espaço para vários deuses, usava nas legiões estandartes com figuras de águias, javalis, etc. Os judeus repetidamente sabotavam suas obras e partiram para uma revolta aberta - sua religião não permitia a coexistência com outras religiões ou deuses impuros. Adriano tomou uma medida drástica: depois de banhar a Palestina em sangue, expulsou todos os judeus da região. Numa exposição recente no British Museum, Adriano é mostrado em várias facetas, como construtor, arquiteto, legislador, lembrado em várias partes da Europa, da África e da Ásia como um grande realizador - e pelos judeus com uma maldição: "Adriano, que seus ossos apodreçam no inferno".
Durante a Idade Média, curiosamente, os muçulmanos foram os grandes guardiães da tradição ocidental, pois preservaram (e desenvolveram) o conhecimento das ciências, filosofias e histórias desde os gregos, produziram seu próprio corpo de conhecimento, seus poetas, seus matemáticos, físicos, astrônomos... até serem engolidos pelo fundamentalismo e obscurantismo.
Duas culturas marcadas pelo fanatismo e pelo obscurantismo - olho por olho, etc. Deviam deixar Hamurábi de lado e olhar os próprios livros santos. Se não, pelo menos as próprias leis.
6 de jan. de 2009
Reforma Ortográfica II
Inspirado pelo Zé Simão, da Folha, descobri que essa reforma ortográfica é um movimento oposicionista: logo agora que o Lula estava aprendendo, mudaram tudo! Ou então uma conspiração petista: já tiraram os pingos dos us, pra mostrar que não estão pra brincadeira e que é pra ninguém se meter a besta e querer colocar os pingos nos iis.
5 de jan. de 2009
Açucena-reggae com gaita de blues
(ou um parque de diversões na cabeça
de Maxwell Sarmento de Carvalho)
1
Descrever o pêndulo: Leonor de Távora. Aspas! E o sócio?
And when I ask you to be mine,
you´re gonna say you love me too?
O enforcamento de Cãidão Ema era fato. Disso ninguém tinha dúvida.
Fora o bang bang na praça principal de Escada de Pedras.
Pensei primeiro em Breno Saint-Gobain, depois Saint-Dennys até chegar em Saint-Just. Ficou bom. Bom não, ótimo! O archanjo da morte. Na ilustração do fascículo da Abril parecia um adolescente.
Caralho, Taj Mahal! Vacas, mantras, cadáveres em banquetes de crocodilos.,39 49 55, o que é isso? E ainda porriba tenho que enquadrar veadagem de piraunense?
Mascates, ciganos, tuaregues (melhor maquiar pangarés e repassá-los como purossangues!) Buena-dicha!
Sobre a cabeça do sujeito num vidro mar arriba, mar afora!
Luzibé batizava os bichos com nomes de estrelas! Estátua eqüestre!
Malheiros escala a seleção de Pirauna.
Colocar Belau dos Dois Capões na epígrafe do cordel trocando bois por xacriabás, depois baobás e continuar com querubins.
Albatrozes de dia e estrelas de noite.
Relógios musicais com pífias pilhas tocando Jambalaya, às 23:30 horas, no casarão da fazenda enquanto eu buscava o sentido para latossolos, para as latrinas subterrâneas da Serra do Espinhaço, as narinas de Deus durante uma audiência com Juan de Torquemada.
(Explicarei melhor na oficina de literatura!)
2
Sempre desejei a morte de Ferrabrás: afogá-lo num tanque de ácido sulfúrico, triturar-lhe o crânio com um martelo ou botar um bacorote vivo em seu estômago e fechar. Optei pelo batuque do preto velho no velório de Catulinim das Virgens. Gostei da voz gutural que vinha de seu diafragma: “Quem acode meus mortos no meio do oceano?”
3
Há que se cuidar do plural das coisas! Concordâncias, confinâncias, cortinados, violoncelos, penicos de esmalte, índigo blues; falar de amor nem que seja pelo bafo das estrelas e dos crisântemos.
(De novo a febre que matou Cleuzinha Miranda,
de novo o silêncio que enlouqueceu Jero de Dona Luzia,
de novo a sombra onde crescem champignons,
de novo a neblina que encobre os gestos mais sublimes!)
Há que se substituir Drasan Aruam por Ametista López, procurar um sucesso de Glen Miller
além de Moonlight serenade,
verificar os sinônimos para evitar pleonasmos,
beber três doses cavalares de Justerini & Brooks!
4
A culpa desse desacerto histórico devo debitá-lo na conta das Irmãs Clarissas Franciscanas: nunca desejei o papel de Ulisses, primeiro pela robusta incapacidade de nadar ( na época apareci com bolhas no esôfago, excesso de cloro, afogamentos, cãibras no ciático, Penélope merecia mais!) Depois que não acertaria aqueles aros nem treinando de hoje até a vigésima encarnação. Escrevi um ensaio desses em 1984, acharam que implantava o movimento beat no Vale do Jequitinhonha: operários na contra mão,
poetas atropelados pelos cavalos da polícia,
sem contar a ressaca de vinho tinto nacional.
5
A Irmã Cecília Alchaar cismou que eu era um chibcha de quase dois metros: respondi que foi um milagre chegar vivo até aqui, dna, genoma, o rabo do espermatozóide, as correntes do golfo, a sopa de jilós e ananases (com que purguei pecados cardecistas!) Quando tive que excluir o breviário do romance pois não me lembrei como se assovia Astúrias Leyenda de Alberniz. Ou como são os albatrozes quando não estão voando, os amantes quando estão dormindo, as pêras nas gôndolas dos sacolões às três da madrugada, que só vejo coisas vivas, até os mortos, no script dos repórteres são ágeis: disse para a Irmã Alchaar, árabe do Mucuri, que vim para um acerto de contas, feito um jagunço Falkner, um cangaceiro de Peckinpah, que a felicidade é pouco mais que um poema de Ferlinghetti, um banho de rio no verão, dispensados repelentes, tarrafas, emulsão de Scott. Dizia isso em 1973 mastigando mamuchas de laranjas e umbus cajás e lia gibis de far west a quem devo o discernimento entre um cacto e um trenó.
Os mortos são ágeis enjaulados nas grades do tórax!
* Narciso Durães, poeta e amigo, escreveu "anonimamente" no blog... não é preciso ser um Poirot pra descobrir a autoria: único malungo salinense que mistura Peckinpah e Falkner com paragens do norte...
3 de jan. de 2009
Reforma Ortográfica
Tenho para mim que sei, como todo brasileiro, os três primeiros minutos de qualquer assunto.
Otto Lara Resende
Eu também, Otto... mas da reforma ortográfica quem sabia era o Paulo Rónai, num artigo que fala sobre a oralidade em Guimarães Rosa. O vivo da língua: sei até onde está o livro, num quartim lá embaixo, debaixo de uma tonelada de coisas. Daqui uns dias publico, assim que o Livingstone aqui tenha coragem de entrar lá. Mas vai uma anedota do Rosa, do segundo prefácio de Tutaméia:
"Já outro, contudo, respeitável, é o caso – enfim – de “hipotrélico”, motivo e base desta fábula diversa, e que vem do bom português. O bom português, homem-de-bem e muitíssimo inteligente, mas que, quando ou quando, neologizava, segundo suas necessidades íntimas.
Ora, pois, numa roda, dizia ele, de algum sicrano, terceiro, ausente:
- E ele é muito hiputrélico...
Ao que, o indesejável maçante, não se contendo, emitiu o veto:
- Olhe, meu amigo, essa palavra não existe.
Parou o bom português, a olhá-lo, seu tanto perplexo:
- Como?!... Ora... Pois se eu a estou a dizer?
-É. Mas não existe.
Aí, o bom português, ainda meio enfigadado, mas no tom já feliz de descoberta, e apontando para o outro, peremptório:
- O senhor também é hiputrélico...
E ficou havendo...
(ROSA, 1985, p. 79).
“Hipotrélico” é, pois, de acordo com a anedota presente neste prefácio,aquele ser avesso a toda e qualquer criação verbal, sendo, de acordo com a formação da referida citada palavra, como um cavalo (hipo) atrelado (trela). Como tal, o hipotrélico não se permite sair da linha pré-determinada para sua caminhada e para seu olhar, uma vez que se tornou um ente incapacitado, devido à trela que lhe introduziram, de olhar dos lados, não podendo, pois, deixar-se envolver pelo universo que o circunda."
(Revista Trama - Volume 3 - Número 5 - 1º Semestre de 2007 - p. 11-24)
Sei que a reforma é ortográfica, mas esses arreios & trelas que tentam colocar na língua me dão nos nervos - afinal de contas, por mais que as palavras passem a ser escritas da mesma forma, dificilmente serão tambem utilizadas de maneira uniforme. Basta pegar um livro do Saramago e ver o estranhamento do português lá dele... no caso, não sei se o hipotrélico sou eu ou se são "eles".