26 de ago. de 2010

38, not out! (2)

Confesso que essa é kitsch (ou brega mesmo). Mas, primeiro, em francês fica sempre bunito. E, depois, talvez, como as cartas de amor, essas declarações desabridas de amizade tenham que ser meio ridículas mesmo...


(Só apertar o play)
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É uma música da Francoise Hardy, diz assim:

L'amitié (tradução abaixo)

 
Beaucoup de mes amis sont venus des nuages
Avec soleil et pluie comme simples bagages
Ils ont fait la saison des amitiés sincères
La plus belle saison des quatre de la terre

Ils ont cette douceur des plus beaux paysages
Et la fidélité des oiseaux de passage
Dans leurs cœurs est gravée une infinie tendresse
Mais parfois dans leurs yeux se glisse la tristesse

Alors, ils viennent se chauffer chez moi
Et toi aussi tu viendras

Tu pourras repartir au fin fond des nuages
Et de nouveau sourire à bien d'autres visages
Donner autour de toi un peu de ta tendresse
Lorsqu'un autre voudra te cacher sa tristesse


Comme l'on ne sait pas ce que la vie nous donne
Il se peut qu'à mon tour je ne sois plus personne
S'il me reste un ami qui vraiment me comprenne
J'oublierai à la fois mes larmes et mes peines

Alors, peut-être je viendrai chez toi
Chauffer mon cœur à ton bois


A amizade
Muitos de meus amigos vieram das nuvens,
Com o sol e a chuva como bagagem.
Fizeram a estação da amizade sincera,
A mais bela das quatro estações da terra.

Têm a doçura das mais belas paisagens,
E a fidelidade dos pássaros migradores.
E em seu coração está gravada uma ternura infinita,
Mas, as vezes, uma tristeza aparece em seus olhos.

Então, vêm se aquecer comigo,
e você também virá.

Poderá retornar às nuvens,
E sorrir de novo a outros rostos,
Distribuir à sua volta um pouco da sua ternura,
Quando alguem quiser esconder sua tristeza.

Como não sabemos o que a vida nos dá,
Pode ser que eu não tenha mais ninguém.
Mas se me resta um amigo que realmente me compreenda,
Me esquecerei das lágrimas e penas.

Então, talvez eu vá até você aquecer
Meu coração com sua chama.

38, not out!

Para Mari, como tudo mais

Trinta e oito! Dou mais 100 anos pra Academia Sueca me reconhecer em vida e aí parto em definitivo para a  posteridade. O tempo às vezes passa voando: esse último ano passou cheio de problemas, preocupações, limitações... mas, incrivelmente, passou de uma maneira deliciosa. Voltei a estudar a fundo coisas que tinha abandonado há séculos; conheci coisas novas, idéias novas, rompi paradigmas, conceitos e modelos mentais inerciais. Acima de tudo, foi o ano em que passei inteirinho, do começo ao fim, com Mari - o primeiro de muitos, e o que talvez explique o adjetivo "delicioso".
Pensei em fazer uma longa digressão sobre os poemas Ode to a Grecian Urn, do Keats, e Sailing to Byzantium, do Yeats, mas desisti: os dois falam de maneira parecida sobre a passagem do tempo. "Essa não é terra para gente velha"... parece Pasárgada, do Bandeira nosso. Mas não: como Borges, quero conhecer todas as maneiras que os homens inventaram de ser homem. No verso de Terêncio: homo sum: humani nihil a me alienum puto. Sou homem: nada do que é humano me é estranho; nem alegrias nem tristezas, nem decepções nem surpresas, e gosto de pensar que ainda estou no início, dezenas e dezenas de anos ainda pela frente, a vela içada, o barco pronto, cada coisa em seu lugar. Metamorfoses: são os ossos do ofídio. Rocinante está mais gordo e já sorri para os moinhos de vento...
A humanidade, essa imensa e caótica coleção de pecados e alegrias, sofrimentos, desilusões e descobertas, parece cada dia mais interessante. Borges dizia que "é um desvario laborioso e empobrecedor o de compor extensos livros, e espraiar em quinhentas páginas uma idéia cuja perfeita exposição oral cabe em poucos minutos. Melhor procedimento é simular que esses livros já existem e oferecer um resumo, um comentário." Posso imaginar um Quixote lúcido, lucidíssimo, que ao avistar moinhos ainda assim os ataca - sua filosofia é encarnar os ideais da cavalaria, a nobreza e a bondade da alma humana - esse homem cuja vitória seria a vitória do homem procurado por Diógenes, o homem bom que a humanidade pode um dia ser, quem sabe. Sancho descobriria, como testamento desse homem incrível, uma única frase escondida em um pergaminho do seu capacete: "se não conseguir vencê-los, ao menos faça-os rir".
A todos, que no próximo ano a vida lhes seja leve, e bela. E obrigado por fazê-la assim para mim nesse ano que passou.

13 de ago. de 2010

Caminhos

Notas pessoais : estudos atuais incluem Pierre Bourdieu (para uma monografia, mas não só), com tudo que tenho encontrado; Richard Lee, Ethnographic study based on long-term fieldwork among the Dobe Ju/’hoansi of Botswana e Marshall Sahlins, com o Stone Age Economics. Collins, The Golem at Large e demais, mas confesso que cansei e estou indo "na fonte", lendo Kuhn e sua Estrutura das Revoluções Científicas - aí já parei e fui ver  Popper, que achei que o Kuhn sem o Popper faria menos sentido (e aí passei para ensaios sobre esses últimos em audiobook, que sou um só). Disciplina de Cinema e Estudos Culturais: Jameson (gosto), Harvey (não), Hall (indiferente), Bauman (não muito, mas vou usar em outra dissertação), achando que ainda faltou um tanto de gente... essa é a parte boa. Ainda tem, para desespero de causa, livros sobre Operações, Gestão, Logística (ainda sei derivadas & outras loucuras matemáticas! achei que um macaco treinado com um ábaco ia se sair melhor do que eu), Investimentos, Administração Financeira. Lembrando o Woody Allen, quando ele diz: "Fiz um curso de leitura dinâmica e li Guerra e Paz em 20 minutos. Tem a ver com a Rússia."
Para não entrar em parafuso, fui no fundo do baú buscar "As Cobras", do Veríssimo - rir é, sempre, o melhor remédio. E Mari chega hoje, então o mundo se reconstrói com ideais e esperanças, o dono da tabacaria sorri, eu vejo os céus, nevar, o mar, e vou à noite para o aeroporto fazendo mafuás, novenas, cavalhadas, comendo terra e dizendo coisas de uma ternura tão simples que é pra ela desfalecer... e aí tudo fica bom de novo. Mas as Cobras ajudaram a passar a semana e rir um pouco, no meio desse turbilhão. Eis as ditas (clique sobre cada tirinha para aumentá-la):



Realmente...