Acho que nenhum dos bons e velhos cães de guerra teriam produzido nada sem uma centelha de loucura; em toda obra, ou melhor, grande obra, vê-se uma tal incoerência seguindo-se os parâmetros da sociedade da época que provavelmente daria motivos pra internar o sujeito. Tempos depois, a sociedade, o tempo e os costumes suavizam, adaptam e/ou aceitam a voz dissonante: às vezes, vira até música. Mas diluída. Os que continuam à margem da margem são somente os gênios. Pensando em Pound, e e cummings, Brown. Antenas da raça. Mas a falta de gente coexistível temporalmente às vezes dói.
7 de jul. de 2008
4 de jul. de 2008
Na Audiart
A sinefonia (?) "Audiart - odiar" em português torna ainda melhor numa tradução o poema abaixo - futuramente, quem sabe, dê pra fazer com um link pro Catulo, odi et amo, excruciator. Ando sem paciências -precisa muito zazen... um pedaço explicativo e o resto do jeito que o louco-mor fez mesmo:
Na Audiart
Que be-m vols mal
Nota: Quem quer que tenha lido alguma coisa sobre os trovadores conhece a estória de Bertran de Born e da Senhora Maent de Montaignac, e conhece também a canção que ele fez quando ela não quis saber mais dele, a canção em que ele, procurando encontrar ou construir alguém igual a ela, empresta de cada uma das mais eminentes damas da Langue d'Oc algum traço ou algum belo aspecto: assim, de Cembelins o seu "esgart amoros", isto é, o seu olhar amoroso, de Aelis, a fala fluente, da Viscondessa de Chalais, a garganta e as mäos, de Roacoart de Anhes, o seu cabelo dourado como o de Iseult; e mesmo da Senhora Audiart (Na Audiart), "embora ela quisesse mal a ele", tomou e louvou as linhas do torso. E tudo isso para fazer "Una dompna soiseubuda", uma mulher emprestada, ou como os italianos o traduzem, "Una donna ideale".
Though thou well dost wish me ill,
Audiart, Audiart,
Where thy bodice laces start
As ivy fingers clutching through
Its crevices,
Audiart, Audiart,
Stately, tall and lovely tender
Who shall render
Audiart, Audiart,
Praise meet unto thy fashion?
Here a word kiss!
Pass I on
Unto Lady 'Miels-de-Ben',
Having praised thy girdle's scope
How the stays ply back from it;
I breathe no hope
That thou shoulds...
Nay no whit
Bespeak thyself for anything.
Just a word in thy praise, girl,
Just for the swirl
Thy satins make upon the stair,
'Cause never a flaw was there
Where thy tose and limbs are met
Though thou hate me, read it set
In rose and gold.
Or when the minstrel, tale half told,
Shall burst to lilting at the praise
'Audiart, Audiart'...
Bertrans, master of his lays,
Bertrans of Aultaforte thy praise
Sets forth, and though thou hate me well,
Yea though thou wish me ill,
Audiart, Audiart.
Thy loveliness is here writ till,
Audiart,
Oh, till thou come again.
And being bent and wrinkled, in a form
That hath no perfect limning, when the warm
Youth dew is cold
Upon thy hands, and thy old soul
Scorning a new, wry'd casement,
Churlish at seemed misplacement,
Finds the earth as bitter
As now seems it sweet,
Being so young and fair
As then only in dreams,
Being then young and wry'd
Broken of ancient pride,
Thou shalt then soften,
Knowing, I know not how,
Thou wert once she
Audiart, Audiart,
For whose fairness one forgave
Audiart,Audiart
Que be-m vols mal.
Ezra Pound, Personae, 1910.