Hoje é uma data importante e completamente esquecida na história da humanidade: há exatos 2.040 anos atrás, Otávio, que viria a ser chamado de Augusto, venceu a batalha de Ácio e se tornou o senhor absoluto de Roma. Nos anos seguintes, criaria a estrutura política do Principado, considerado por muitos (inclusive eu) como a maior realização política da história. Com isso, ele sepultou definitivamente a República e deu início ao Império Romano - que duraria ainda quatro séculos tendo Roma como capital do mundo, sendo que sua vertente oriental só cairia no século XV, com a tomada de Constantinopla. Esse tirano frio e calculista foi também o Pai da Pátria e o maior gênio político da humanidade. Enfeixou todos os poderes da república em sua pessoa e governou tão bem que todo o mundo contemporâneo chegou a considerá-lo um deus. Graças a ele, as idéias e ideais da civilização grega tiveram tempo de espalhar-se pelo ocidente e, juntamente com tantos outros valores romanos, moldaram para sempre nossa civilização.
Entretanto, por uma grande injustiça consolidada pelo costume de mil anos, chamamos o Império Romano de "domínio dos Césares", assim como os reis da Europa adotaram variações de César como título: Kaiser, na Alemanha, Czar, na Rússia; na Dinamarca, Kejser; Holanda, Keizer; Islândia, Keisari, Croácia, Car, Eslováquia, Cisár, Ucrânia, Tzar, etc. No filme Gladiador, o imperador é chamado de "César", assim como em vários outros filmes e livros. É uma imprecisão: na verdade, o título de César era secundário e menor, sendo atribuído ao herdeiro presuntivo do império a partir do século II. Já no final, com o império em decadência, Diocleciano criou a tetrarquia, dividindo o império em quatro partes, com os Césares reinando em conjunto mas submetidos ao poder do Augusto. Pela força persuasiva do tempo o título de César permaneceu, enquanto o título superior de Augusto, que remetia às realizações desse homem extraordinário, foi esquecido.
Otávio chegou em Roma para vingar o tio e pai adotivo, César, em 44 a.c. – tinha 18 anos de idade. Ao vencer a batalha de Ácio, em 31 a.c., tornou-se o senhor do mundo, aos 32 anos. Reinaria ainda por 44 anos, moldando o mundo à sua imagem. Usou de todas as artimanhas, enganações, mentiras, crueldades e imposturas para vingar o pai adotivo e chegar ao poder – mas uma vez no comando do mundo, deixou de lado o tirano vil e mesquinho e se tornou durante meio século o exemplo do rei filósofo platônico, magnânimo, tolerante, sábio, justo, tendo sido considerado na sua época por quatro das principais religiões como o Messias profetizado. No leito de morte, suas últimas palavras foram: O show acabou. E já que representei bem o meu papel, deixai que, entre aplausos, eu me retire do palco. Acta Fabula Est.
Entrelinhas, entremontes
Há um ano
Um comentário:
I wish not agree on it. I regard as warm-hearted post. Especially the appellation attracted me to study the whole story.
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