Na Segunda Guerra os americanos fizeram algumas bases na Nova Guiné, para reabastecimento de aviões durante a campanha do Pacífico. E lá haviam esses Papuas, com modo de vida remontando à idade da pedra e sem contato com outros povos (ia botar "povos civilizados" mas a miserável da consciência politicamente correta não deixou). Pois observando os americanos em suas bases, ficaram admirados com o poder mágico deles - afinal, invocavam esses "grandes pássaros" com frequência e facilidade. E resolveram imitá-los: construíram equipamentos de rádio, praticamente perfeitos, esculpidos em madeira e pedra, e tentavam, sem sucesso, imitar os gestos e sons da língua estranha para invocar eles próprios os aviões.
A quase anedota parece risível, mas aqui o governador do Tocatins quer construir uma réplica em tamanho natural da Torre Eiffel - e o sentido não é muito diferente da invocação dos papuas. Quem sabe imitando os aspectos externos de uma cultura nós consigamos alguma transmutação, alguma transformação mágica que nos faça mais "civilizados"... O governador age como um bom botocudo brasileiro, mas merece cidadania papua - o sinal externo tomado pela coisa em sim, e a coisa em si tomada pelo que representa, no caso, o que ele deve considerar uma "civilização superior". Ou não: talvez, como um papua honorário, queira simplesmente atrair "pássaros grandes" apinhados de turistas, num torto jeitinho brasileiro. Merece não uma medalha mas uma clava e uma caverna pra passar seus dias sem tentar mágicas bestas.
Entrelinhas, entremontes
Há um ano
Nenhum comentário:
Postar um comentário