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Ali no Rio, aquela mata atlântica próxima às praias dá a impressão de um estouro de banhistas repentinamente transformados em árvores, flores, plantas, cada qual mais multicolorida que a outra, verdes de tons nunca dantes desenhados, parecendo que se acotovelam pra ver quem consegue um lugar ao sol, uma nesga de paisagem. Imaginem um quadro do Arcimboldo, um Arcimboldo alegre, usando todas as cores da paleta para desenhar banhistas e pronto, taí a natureza brasileira. Ou uma página de Ovídio, uma metamorfose coletiva de foliões correndo para o mar. Em uma praia próxima a Parati, certa vez, os verdes e azuis e amarelos e vermelhos estavam tão destacados, eram tantas as árvores e flores, tão próximas à praia, umas meio que penduradas sobre o mar, que a única coisa que pude pensar olhando pra elas foi "estão brigando pelos seus 15 minutos de fama"! Os filósofos europeus como Descartes e Galileu diziam ler o livro da natureza através da linguagem matemática, triângulos, retas... uma natureza que tentavam fazer caber em seus compassos, réguas e papéis:
A filosofia está escrita nesse imenso livro que continuamente se acha aberto diante de nossos olhos (falo do universo), mas não se pode entender se antes não se aprende a compreender a língua, e conhecer os caracteres nos quais está escrito. Ele vem escrito em linguagem matemática e os caracteres são triângulos, círculos e outras figuras geométricas, sem as quais é impossível para os homens entender suas palavras; sem eles é rodar em vão por um labirinto escuro. (Galileu Galilei)
Imagino aqui, cercados por essa exuberância, onde até as cores são despudoradas, se teriam ainda essa leitura tão racional. Não sei qual filósofo ou antropólogo exclamava: "infeliz do país que tem bananas"! Dão o ano inteiro e não precisa plantar, teoricamente liberando os viventes à sua volta para o ócio criativo. Mas acho que nesse caso nossos avós tupiniquins olhavam ao seu redor, olhavam para o céu, e não viam matemáticas, retângulos, hipotenusas: sonhavam fábulas, carnavais, folias.
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