"Quantas divisões tem o Papa?" Essa pergunta de Stalin sugeria que o Papa podia reclamar o quanto quisesse, que reclamar era tudo que ele podia. "Onde está o testamento de Adão"? Perguntou Francisco I, da França, ao ser informado do Tratado de Tordesilhas, que dividia o mundo entre Portugal e Espanha. "Paris bem vale uma missa", disse Henrique de Navarra, ao abraçar o catolicismo para poder reinar sobre a França. Todos eles de um realismo político que beira o cinismo completo. A melhor, no entanto, é a conversa de Mao com Nixon - este dizia ao colega chinês que era um contrasenso terem armas de destruição em massa capazes de destruir toda a população mundial várias vezes: "Não", retrucou Mao, "meus cientistas dizem que depois de usadas todas as nossas armas, vocês serão varridos do mapa, mas ainda restarão três ou quatro milhões de chineses. É o suficiente pra nós recomeçarmos!" Nixon deve ter engolido em seco diante do lunático à sua frente.
Há uma diferença gritante, claro, entre realismo político e tráfico de influência e poder, troca de cargos, nomeações, apadrinhamentos, aparelhamento, venda de votos, alianças espúrias e coisas mais. Quando disseram que "política é a arte do possível", alguém ia imaginar que o sujeito estava se referindo na verdade à maior corrupção possível, à maior enganação possível, ao maior descaramento possível e por aí vai? Eu esperava que não. Em vão. Esses dias, na Folha, saiu o caso do Edvaldo Nilo, que era prefeito de Antas, na Bahia. No final do madato, resolveu apoiar seu cunhado, que era da oposição e tinha sido seu adversário na eleição anterior. Apesar de estar no palanque, via os correligionários do ex-adversário meterem o pau na "atual administração". E a "atual administração" era ele, Nilo. "Medíocre", "incompetente", eram alguns dos epítetos do "atual prefeito". E o Nilo aplaudindo. Quando perguntado se ele não se sentia ofendido, respondeu: - "Meu rapaz, nem eu lembro em quem votei na eleição passada. Imagine então esse povo aí embaixo!". Enquanto isso e enquanto assim, se perpetuam sarneys e lulas e renans e demais, antas que somos. Quantos neurônios tem o eleitor? Para mudar a atual situação, a memória do nosso eleitorado tem tanto poder de fogo quanto as divisões do Papa.
Entrelinhas, entremontes
Há um ano
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