Minha prima, americana, chegou dos EUA para uma temporada no Brasil e me falou desse documentário. Eu tinha ouvido algo mas confundi com aquele filme, esse de ficção, sobre turistas americanos que têm seus órgãos roubados, um filmezinho de horror de péssima qualidade. Mas esse documentário mostra casos de corrupção e violência, e o faz como se houvesse uma ligação direta entre eles - e mostra também como se fosse uma coisa geral. Pega pesado com a imagem do país - e nós reagimos da mesma forma que aquelas famílias onde tem abuso ou violência doméstica: nos voltamos contra quem divulga, por vergonha, humilhados. Nas páginas de comentários dos sites que falam sobre o documentário tem centenas de comentários indignados de brasileiros, reclamando da visão do país exibida no documentário - e trazendo aquela velha retórica: "e o problema dos negros nos Estados Unidos?", "E os milhares que vocês mataram em guerras?", "E a expoliação capitalista?", e por aí vai. Como diria o filósofo do Casseta e Planeta, "cada um com seus póbrêma". No caso do documentário, existe uma generalização e uma visão simplista que liga toda a cadeia de crimes - mas têm realmente um elo comum: a impunidade. E pra quem acabou de absolver José Sarney, engolir sapos de estrangeiros deve ser a menor das vergonhas. Abaixo a sinopse e o link para o documentário, que já foi exibido em alguns dos mais conhecidos festivais internacionais de cinema, como Sundance, Roma e Berlim:
A sinopse de Manda Bala, que consta da programação do festival, vale a leitura e resume em poucas linhas o ciclo vicioso da impunidade no Brasil: "São Paulo, no Brasil, é a cidade com o maior número de helicópteros particulares e carros blindados do mundo, onde a corrupção é um investimento econômico e político e o crime é uma atividade tão difundida que é praticado como algo rotineiro. Alguns sobrevivem seqüestrando os filhos de ricos empresários. Os reféns, por sua vez, têm as orelhas mutiladas. Estas, por sua vez, são refeitas por um cirurgião plástico especializado. O inquietante lado escuro de um país onde os mais ricos roubam os mais pobres, que roubam os ricos e assim ad infinitum.
Para fazer esta detalhada investigação sobre a corrupção no Brasil, Manda Bala acompanha três personagens-chave. Um deles é um político que, para lavar dinheiro, abre uma fazenda de criação de rãs de fachada. O político? Ninguém menos que Jader Barbalho. O outro personagem é um empresário que gasta milhões para blindar seus carros. Os depoimentos deste e de outros personagens que já foram seqüestrados revelam como a indústria do seqüestro é um ramo rentável no Brasil. O terceiro é um cirurgião plástico, que reconstrói orelhas de vítimas de seqüestro.
Entrelinhas, entremontes
Há um ano
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