Quando li a primeira vez sobre o Programa Nacional de Direitos Humanos, lançado esses dias pelo governo Lula, me veio à cabeça uma frase do Tancredo: "Esperteza, quando é demais, cresce e engole o dono". Pois o tal programa me pareceu uma grande peça eleitoral, feita sob medida para agradar a uma grande, enorme parcela de descontentes com os rumos que o PT da "realpolitik" tomou. O governo Lula está enquadrado nas grandes políticas de mercado, nenhum outro governo deu tanto lucro e atenção aos bancos (nem mesmo o Proer do FHC), o meio ambiente está sempre em segundo plano - vide a briga para liberação de licenças ambientais, com a Dilma fazendo pressão para colocar o desenvolvimento na frente de tudo e dane-se o resto - e no Congresso, alia-se a Collor, Sarney e escumalha.
Um petista que fosse congelado no tempo em 1980 e acordasse agora acharia estar vivendo um pesadelo ou uma piada de mau gosto. Os atuais ficam constrangidos e entram nas justificações do "pelo menos", do "antes nós que eles", etc. As mesmas justificativas do "bem maior" que salvam a cara da ditadura cubana e que Goebbels usou tão bem para enganar e desviar a população alemã. Aí, na entrada do ano eleitoral, o governo joga um osso à esquerda. Embrulha num único pacote todas as reivindicações da ala autêntica do partido e arma o palco. Leva duas vantagens: prova que não abandonou "a causa", de um lado, e joga a culpa pela não aprovação ou execução do programa nas elites eternas - prendam os suspeitos de sempre, dizia aquele inspetor em Casablanca. E o governo tem agora uma bandeira e uma desculpa para afirmar-se de esquerda e comprometido com os fundamentos petistas na campanha... se posto em prática, o programa permitirá a realização de vários sonhos petistas, como instrumentalizar a justiça, proteger o MST, controlar a imprensa, acabar com o agronegócio e começar um simulacro de planejamento estatal da organização social, sob controle dos nossos queridos stalinistas de plantão. Se não fosse só uma peça de propaganda, era perigoso até o Babá pedir para voltar, banhado em lágrimas de arrependimento e torcendo as mãos como num palco.
Entrelinhas, entremontes
Há um ano
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