Com todos os líderes em Copenhagen, lembrei de uma frase do Millôr sobre a abertura lenta e gradual que os militares queriam fazer - dizia que, se Hércules tivesse seguido esse tipo de conselho, teria limpado as estrebarias de Áugias com um baldinho e um regador e aquilo estaria cheio de bosta até hoje... para quem não sabe ou se lembra (infelizmente quase ninguém lê essas coisas mais), limpar as estrebarias de Áugias, que se estendiam por quilômetros, foi um dos doze trabalhos de Hércules, que ele resolveu de maneira bastante eficiente - desviou um rio e limpou as estrebarias. Do mapa, inclusive: não sobraram nem bosta, nem estrebarias e nem cavalos. Mas do jeito que estão andando as coisas, também não haverá preocupações futuras com o meio ambiente - não haverá um, pra se preocupar.
Em um livro de marketing, descubro que a pressão para abrir um saco de batatas fritas é cuidadosamente estudada, para que dê ao consumidor o nível de dificuldade adequada - nem tão fácil que não pareça uma conquista (!), nem tão difícil que cause frustração. O animal treinado- desculpe, consumidor -, depois da tarefa, deve se sentir recompensado, como aqueles macacos que ganham bananas montando cubos. Outra forma sutil é enfiar folhas soltas em revistas - quando o macaco, digo, consumidor, abre a revista, cai a folhinha e ele é obrigado a pegá-la, sendo obrigado assim a ver o que é, aumentando as chances de que continue a leitura. A realidade é que a propaganda solta custa mais caro por isso - experimentem abrir uma revista e deixar os papéis soltos caídos no chão... não dá, não conseguimos, somos responsáveis por causar a sujeira, jogar o lixo no chão, então temos que pegá-los, e ao fazer isso, quantas vezes não olhamos pra ver se faz parte de alguma reportagem ou se é algo interessante? Uns 20 anos atrás, uma fábrica de Detroit fez um experimento com cores - vermelho causa angústia e desconforto, azul traz tranqüilidade, etc. Colocaram então em prática a "brilhante estratégia" de fazer com que os monitores e luzes que cercavam cada trabalhador mudassem de cor de acordo com a produtividade. Caso o trabalhador apresentasse atraso, a tela ia ficando vermelha, fazendo com que ele se esforçasse pra voltar ao azul mais confortável... Todas as estratégias de Recursos Humanos e Marketing de hoje são aprimoramentos do princípio básico usado desde os feitores das pirâmides: utilizar o máximo do potencial de cada animal cativo submetido ao seu jugo. A única nota divergente a essas estratégias que já vi foi nas barrinhas de chocolate de certa fábrica brasileira - ao colocarem uma seta e um "Abra aqui", a única motivação daqueles sádicos deve ter sido o sarcasmo.
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