Mais uma semana do Senado: sic transit gloria mundi, se a glória do mundo é passageira, a mediocridade veio para ficar. Agora começa novamente a delicada valsa dos calhordas: movimentos suaves de acomodação em uma e outra direção, até que a opinião pública se distraia e todos voltem aos seus lugares... Afinal de contas, divulgou-se malfeitos também da oposição (que surpresa!), e agora o melhor é que todos se acalmem, conversem, etc.
Aqui fica transparente a mais perversa das posições: se atacamos todos, não conseguimos nada. Para conseguirmos algum avanço contra a corrupção, o clientelismo, o patrimonialismo, devemos esquecer os pecadilhos dos “amigos”, para melhor fustigar os inimigos. Aí, um pouco sem graça, a imprensa emite notas, fala um pouco com uma luz medianamente simpática do acontecido – dois pesos e duas medidas, mas tudo para o “bem maior”. E ficamos reféns da mediocridade “menos ruim”. Não funciona!
Os petistas em geral – digo os militantes e simpatizantes – e a maioria dos eleitores conscientes do Lula têm vivido esse dilema: descobriu-se que a cúpula do partido é leniente e negligente, quando não corrupta com força, e não se diz nada para não entregar o governo a “eles”, a oposição demonizada. Nas conversas, sempre vem a história do “mas pelo menos”. Que medíocre, que baixo, que horror que as nossas melhores aspirações, nossos sonhos e utopias de crescimento social, de inclusão, liberdades democráticas, luta contra desigualdades econômico-sociais, tenham se reduzido à aceitação bovina de desmandos em nome de caraminguás jogados na arena, pão e circo para a massa ignara... a explicação ou desculpa é que não há alternativa. Não? Não mesmo? E a militância que saía às ruas, não pode ser repetida? E as passeatas, as bandeiras, a luta – ficou fora de moda acreditar em alguma coisa, lutar, gritar, reclamar?
Acho que essa dicotomia onde a condenação das alianças, corrupções e desmazelos do atual governo corresponde a uma defesa da volta dos corruptos anteriores tem que acabar. É o espantalho colocado diante de nós: “somos os melhores corruptos disponíveis”, parecem gritar como se fosse vantagem. Ao mar com todos eles, e começamos de novo. De vez em quando devíamos fazer como nossos ancestrais fizeram com o bispo Sardinha – devoramos, cagamos os restos e mandamos o recado: mandem outros.
Entrelinhas, entremontes
Há um ano
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